Quem iria imaginar que conheceríamos um exímio executor da dança maori; que galinhas cantam música sertaneja; que o bebê chorão só vai acalmar quando colocar a língua no cotovelo; que era tão importante conseguir falar o quatro na conta do 21 e que se grita desesperadamente quando se está em Marte?
Quando tudo foi uma questão de comprar o risco, nós vimos quem saiu do mundo de princesinha direto para o do lobo mal; quem dançava o mais vibrante possível pentelhando as coitadas das “estátuas”; quem sabia mais nomes que o funcionário do cartório de registro civil e até quem era especialista em xingamentos.
Às vezes atropelamos os jogos, às vezes nem queríamos jogar, mas foi soltando uma carta de cada vez que descobrimos que o street dance é bem mais brasileirinho do que se pensa; que a macaca dá uma coçadinha durante a dança do acasalamento; que tem gente que adorou ter uma bebida como sobrenome e que a volta pra casa sempre pode ser mais divertida.
Era impossível não ver que o único homem no planeta que tem TPM fala pra dentro; que tem gente que acredita que tem muitas caras; que -entre as monitoras- os gritinhos da "lôra" são únicos; a bronca da morena é dura e a pequena faz de tudo pra ver todo mundo bem.
No fim, quem se sentia insensível se desmanchou em lágrimas, quem chorava por tudo engasgou e não conseguiu falar e eu me senti ainda mais singular ao ver a “autista” que não gosta de fotos, nem de aniversários, me entregar seu riso e suas lágrimas.
Como não perceber tanta mudança? Como não mudar junto? Transbordávamos de tanta ansiedade pela intervenção e pelo primeiro contato com o olhar alheio, que nem nos demos conta que a verdadeira intervenção já havia acontecido. Não éramos os mesmos de antes, não depois de cada toque, de cada olhar.
Aos poucos, o nervosismo foi tomando corpo em mim e ninguém pode imaginar como eu quis morrer quando percebi que havia chegado a grande hora e estava sem o meu nariz. Logo o nariz? Voltei à estaca zero, ao antigo pavor do picadeiro. E uma tempestade de insegurança se apossou de mim por alguns instantes até eu encontrar o olhar penetrante do meu gordo preferido bem alí - extremamente disponível - até eu ouvi-lo dizer “eu nunca emprestei a ninguém” enquanto me entregava um pedacinho do seu coração.
Conduzidos pela Gentileza, aprendemos que “máscara não se coloca, se veste” e a vida fez questão de vestir as nossas. Admirando ainda mais a responsabilidade do nariz que usava, lancei meu olhar mais disposto e recebi os melhores sorrisos. Compartilhei de toda palavra e de cada silêncio. E alguém - se quiser- tente descrever o que eu senti naquela manhã porque eu – sinceramente - não consegui.
E o que eu poderia dizer ao meu companheiro da calça "troncha"? Ele que me viu desabar na ladeira e não tentou me levantar, nem me consolar. Não sei como agradecer. Foi indefinível ver ele se atirar ao chão e não me deixar morrer de vergonha sozinha... ele nem sabe, mas - ali ao meu lado - transformou o pior momento no mais peculiar, e eu fui uma perdedora feliz.
Depois que tudo acabou, ainda embebida de tanta energia, de tanto sentimento, foi impossível não lembrar das nossas evoluções e de como foi saboroso caminho. As inúmeras imagens que passavam pela minha cabeça poderiam até ter um tom de nostalgia, mas elas tinham o gosto dos lugares especiais da memória.
No meu corpo escoriado e marcado por todos aqueles pequenos gestos, ficou a imensa felicidade de ter me entregado a liberdade de errar e de ser ridícula, a liberdade de ser eu.
6 comentários:
QUE LINDOOOOOOOOOO ROUSI. Mta verdade em tudo.
São poucos os que conseguem realmente deixar o coração falar. Parabéns!
Que coisa mais linda amiga. Agora dá pra ver ainda mais claro o porquê de você estar tão radiante.
Fiquei tentando imaginar como deve ter sido essa danada de intervenção, e ver pelas fotos o seu olhinho apertado tão arregalado só me faz crer que foi maravilhoso.
Espero que esse encanto se renove pelos hospitais da vida.
Rouse vei! INCRIVEL PO!
Ficou a palhaça mais linda que eu já vi ;)
Muito bom saber que esse transbordamento dos teus sentimentos, dos teus MELHORES sentimentos, agora chegam a outras pessoas... a outros olhares.
Aproveita! Parabéns!
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