quinta-feira, 23 de setembro de 2010 14 comentários

Ontem à noite



A lua, envergonhada, se escondeu ao ver o moço simples que cantava, com a ponta dos dedos, versos singelos de emoção revisitada.

Se eram as cordas a imitar as batidas do coração ou o contrário, pouco importa. Na madrugada morna, era possível encontrar qualquer sensação solta ou perdida entre papéis e pensamentos.

O tempo continua usando os mesmos truques. E, às vezes, parece que me deixo seduzir de propósito. Só para me sentir iludida. Só para me fazer pensar que não pensar me tornará ingênua.


Quero meu ouro, mesmo que seja de tolo. Encontrar o velho, estranhar o que é novo e fazer do inusitado um velho conhecido. É que gosto de rimas estranhas e sei que meus afetos são complexos, contudo, se necessário, posso desenhar para quem for disléxico.

Não quero ter a alma doída nem as emoções calejadas. Já não me importo em parecer piegas. Quero de volta a pretensão maliciosa do olhar desconfiado e o desejo de sentir tudo de uma vez sem me preocupar se vai sobrar um pouco para mais tarde. Quero poder acreditar que “os teus olhos têm a cor dos meus sonhos”.

Ontem à noite, a lua veio ouvir que não existiriam mais aquelas noites. A poesia aquietou-se, a música parou, e fomos embora guardando um pouco para depois.


 
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