sábado, 29 de dezembro de 2012 1 comentários

Guardado




Entre esperas inúteis,
passada a agonia,
o que semeio?
Poesia.

Trocada, sempre trocada,
sem, ao menos, saber pelo quê.

E meu corpo paga pela tua ausência,
por não ter podido te amar,
por não ter pelo que te perdoar.

Os sonhos, coitados, tão maltratados,
cheirando a guardado,
não querem esperar.

Arranca-me os olhos, mas faz-me partir.
Mais triste que ser só é não ser.
E sendo ninguém, como – ainda – posso sofrer? 
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012 0 comentários

Profecia


Entre tantos finalmentes, 
o que recomeça não se sabe, enfim. 

Findam-se os dias, as noites, os caminhos...
E a estrada sempre tem um fim para quem não continua. 

Findam-se os ritos, as farsas, os medos...
E os ciclos são vícios para quem não suporta dar-lhes fim. 

Findam-se os sonhos, as esperas, os amores...
E os filhos são registros de finalmentes dos romances.

Findam-se os versos, as rimas, as estrofes...
E para a poesia, finda a vida, resta ser sem fim.
terça-feira, 6 de novembro de 2012 3 comentários

Que ao amor não convém



Pau de chuva encantado
traduz o gingado
que, só ao teu lado,
meu coração tem.

Recebo notícias aos montes
de sonhos distantes
mesmo que não contes
por um bom vintém.

Sorrisos e falsas canções,
muitas sensações,
mas as ilusões
às vezes convêm.  

Lembranças, lindas revisitas,
merecem ser ditas,
mesmo que não sintas
mais nada e além.

Foi tudo em bom tom
ó meu rapaz bom
tu tinhas o dom
que poucos detém.

Mas fomos teimosos,
quem sabe medrosos,
insistimos vaidosos
no que, ao amor, não convém.
terça-feira, 30 de outubro de 2012 2 comentários

a r r i t m i a

Das sensações todas,
as que mais incomodam
palpitam.

E tu, tão acostumado a automatismos,
às vezes,  silencias,
parece que escapas.

Perturbado por reentradas,
sem ritmo, oscilas.
Coração, aonde vais?

Entre conduções alentecidas
e amplitudes aberrantes,
resta entender tuas ondas dissonantes.
sábado, 13 de outubro de 2012 1 comentários

Outros tempos





Entre medos bobos, o intocável – agora – é bem ali.
E já não posso sentir o mesmo.
Entre certezas absurdas, a resposta – agora – é o que menos interessa.
E já não posso sentir o mesmo.

As esperas inúteis também me foram proveitosas
E a vida, mesmo com suas transgressões, seguiu seu rumo.
Aquelas velhas juras ainda merecem ser sussurradas.
E continuo a debruçar-me por entre versos em noites cortadas.


Quis não ser descoberta ao passo que me despia.
Esquivei-me de quê? 
Aprecio a generosidade da entrega do tempo aos meus caprichos. 
segunda-feira, 24 de setembro de 2012 1 comentários

Árido

Presentinho da minha amiga Marta Leal... 




À Rousi Cavalcanti
Quando a alma cala o desejo
E entre o respirar não cabe o beijo
Quando uma porta
Corta o que havia para dizer
E cala o ser

O silêncio se instala
O medo enche a sala

A estrada apressa
O passo para o raso

O raso de nós

No fundo da alma
O árido da palma
A paisagem se cala
A alma se cala
O amor se apaga


sábado, 22 de setembro de 2012 0 comentários





Foi-se o tempo em que perder tempo era fundamental para entender-ser com ele. Porque tempo perdido não é tempo que se ganha, mas é tempo sentido que, só por não ter existido, já valeu a pena ter-se vivido.

Mas, se o tempo que vos falo é o tempo que vos entrego, é porque tenho tido tempo de ter tempo para perder-me no tempo.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012 2 comentários


  
O passado - agora - não importa, nem os porquês.
E não há mais distinção entre desejar e ser o desejo. 
  Somos um mar de possibilidades que, apenas por existir, basta.
domingo, 22 de julho de 2012 0 comentários

...



Cada nuvem que se desfaz leva consigo uma ilusão.
Para onde vão os sonhos desfeitos?
E as nuvens, para onde vão?
domingo, 6 de maio de 2012 3 comentários

Nada





Nada do que eu diga agora adiantará
porque não adianta sentir com atraso.

Nada do que eu diga agora impedirá
porque não se impede o passado.

Nada do que eu diga agora restará
porque não resta o que não é sobra.

Nada do que eu diga agora resistirá
porque não resiste quem nunca quis lutar.
  
Nada do que eu diga agora silenciará
porque não se silencia o que já é mudo.



quinta-feira, 29 de março de 2012 1 comentários

Desencanto



É complicado lidar com as verdades, sejam elas quais e quantas forem. E mais complicado ainda é lidar com o que não se vê. Por que isso de "o que os olhos não vêem o coração não sente" é muito bom de dizer quando não é com você.

Meto-me de enxerida que sou. Devo ter a língua maior que os pudores, mas é que eu ainda me sinto do tempo em que era digno indignar-se.

Dispam-me de rotulações. Nem racista, nem sexsista, muito menos extremista. Prefiro ser realista, mesmo quando a realidade se esconde entre falsas intenções.

É que hoje eu estava especialmente reflexiva. Queria entender o que dizem as juras de amor. Ouvi Beatles, cantei com Chico e li Cecília. No fim, restaram suaves impressões das reproduções de versos e canções que só exigem sinceridade de quem os repete.

Me perdoem os hipócritas, mas é impossível manter o encanto por alguém que, sem o mínimo remorso, olha nos olhos e faz juras de amor a quem, na noite anterior, estava traindo.

Não adianta. Certas desculpas são indesculpáveis.
terça-feira, 13 de março de 2012 2 comentários

Recife



Tu que tantas vezes me deixa perdida,
que tantas vezes me enlouquece,
não me guardes sob medida,
não me escondas o que entontece.
Acalma minha eterna despedida
e dissolve-me no que só em ti anoitece.



 
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