Tentar entender o comportamento humano é uma tarefa deveras complicada e eu desistiria na primeira fração de segundos se partisse para entender por que as pessoas complicam tanto a vida (e não estou falando de complicações saborosas das quais estou acostumada e que causam frio na barriga).
Freud, apesar de ter conseguido se estender pelo supra-sumo do psicológico, não completou sua obra. Talvez por ter morrido e não ter tido tempo suficiente, talvez por saber ser impossível explicar por que impulsos nervosos fisiologicamente idênticos geram respostas humanamente divergentes.
Eu poderia ser questionada sobre que autoridade teria para julgar o funcionamento da mente ao pensar, sentir e reagir, mas afirmo sem presságios que preencho e até ultrapasso os requisitos “psicocinéticos” exigidos a tais julgamentos à medida que, aos olhares alheios, sou um ser complicado, complicante e complicador.
Em meio a tantos dilemas complicativos o que eu gostaria de elucidar é simples e tempestivo: Até onde vai o sonho do outro? O desejo do outro? O direito do outro? Até que ponto alguém se anula em função do outro? Até onde o outro é melhor ou pior?
É impossível conceber como alguém que diz amar deixa o outro roxo de pancadas e não de amor. Como alguém que jura FIDELIDADE, AMOR e RESPEITO de LIVRE e ESPONTÂNEA VONTADE se julga autoridade para afirmar que “sexo por sexo” não é infidelidade ou que mandar “tomar não sei onde” e “dar não sei o quê” é o respeito que o outro imaginava compartilhar.
É praticamente surreal para a minha reles mente mortal entender como o amor é encarado como sinônimo, e não como antônimo, de anulação. Certa vez, vislumbrei-me ao descobrir que amar quer dizer dar a vida pelo outro (ou pelo menos dividi-la) e, até agora, não consegui descobrir quem resolveu permutar para: retirar a vida do outro em seu favor. A verdade é que me custa muito compreender por que alguém que resolve dividir casa, contas e filhos “esquece” de compartilhar anseios e aspirações.
“Cartas de euforia” (alforria) deveriam ser emitidas a todos os instantes e não limitadas as inquietações do século XIX. Parece que na “modernidade” os contratos pré-nupciais substituíram as correntes, as alianças as algemas e as humilhações verbais o tronco. O espantoso é notar que, ainda hoje (ou, principalmente hoje), o dinheiro é preponderante e que se submeter a agressões físicas, morais e psicológicas torna-se necessário quando o importante é manter a “integridade” familiar em prol dos filhos e de uma falsa vida social.
Por mais que eu tente e deseje, não vou ser a mente brilhante a decifrar o que a química e a biologia intitulam de reatividade ou norma de reação, já que esse mistério não é definido pela genética ou pelo meio, pois a forma de reagir aos estímulos externos depende de um fator que não se pode ver, só sentir, e que a ciência não conseguirá esmiuçar - a alma.