domingo, 28 de novembro de 2010 16 comentários

Até parece...



Até parece que se ama por impulso,
que se tem paixão por conveniência,
e que se sonha sem tirar os pés do chão.

Até parece que a gente não sabe onde tudo vai dar,
que não se engana de propósito,
e que nao quer se enganar.

Até parece que a gente nunca tinha sonhado,
que nunca tinha voado,
e que nunca tinha caído.

Até parece que não ia doer,
que a gente não ia sofrer,
e que ninguém ia perceber.

Até parece que a gente não ia seguir em frente,
que não ia olhar pra trás,
e que não ia se sentir de repente.

Até parece que meus versos não são mudos,
que se eu gritar você escuta,
e que o contrário tornaria algo diferente.

Até parece que, um dia, eu deixei de ser tua,
que hoje eu conseguiria ser de outro,
e que isso seria, ao menos, suportável.

Até parece que o tempo ia passar,
que a saudade ia acabar,
e que tudo ia ter um fim.

Ai, ai, .... até parece!

sábado, 13 de novembro de 2010 16 comentários

Quando te perdi, meu amigo...




Com o passar do tempo
fui substituindo, aos poucos, a tua presença.
Repousei meus beijos em outros lábios
e entreguei sorrisos e sentidos a novos abraços.

Quando te perdi, meu amigo,
preenchi toda a tua ausência
e aprendi a conviver com aquela antiga saudade,
mas a paz que a tua voz me trazia não consegui.
^^
quinta-feira, 23 de setembro de 2010 14 comentários

Ontem à noite



A lua, envergonhada, se escondeu ao ver o moço simples que cantava, com a ponta dos dedos, versos singelos de emoção revisitada.

Se eram as cordas a imitar as batidas do coração ou o contrário, pouco importa. Na madrugada morna, era possível encontrar qualquer sensação solta ou perdida entre papéis e pensamentos.

O tempo continua usando os mesmos truques. E, às vezes, parece que me deixo seduzir de propósito. Só para me sentir iludida. Só para me fazer pensar que não pensar me tornará ingênua.


Quero meu ouro, mesmo que seja de tolo. Encontrar o velho, estranhar o que é novo e fazer do inusitado um velho conhecido. É que gosto de rimas estranhas e sei que meus afetos são complexos, contudo, se necessário, posso desenhar para quem for disléxico.

Não quero ter a alma doída nem as emoções calejadas. Já não me importo em parecer piegas. Quero de volta a pretensão maliciosa do olhar desconfiado e o desejo de sentir tudo de uma vez sem me preocupar se vai sobrar um pouco para mais tarde. Quero poder acreditar que “os teus olhos têm a cor dos meus sonhos”.

Ontem à noite, a lua veio ouvir que não existiriam mais aquelas noites. A poesia aquietou-se, a música parou, e fomos embora guardando um pouco para depois.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010 6 comentários

Samba nas entrelinhas

"Pra onde vão desejos?
palavras sem razão?
Pra onde vão palavras?
Versos ao vento vão".
(Zeca Baleiro)



Alguém já se sentiu uma aventura? Não aquelas do tipo psicodélicas que levam a loucura e provocam delírios seguidos de um suor intenso. Falo de brincar de sentir e sentir muito depois de brincar.
É interessante pensar sobre isso por que acredito que ninguém se propõe a algo que o dicionário deveria definir como uma relação fugaz que promove divertimento e prazer momentâneo, porém sem a menor intenção de acontecer.
Quem foi o mais intenso: o que fez firulas e declarações aos sete cantos ou o que, mesmo sem entender porque, se manteve fiel ao que sentia? E quem é capaz de comparar?
Vale mais penar por perder os sentidos ou sentí-los com pena? Pesar, ponderar, delirar? ... Já não importa quantas doses de tequila. O nome escrito no vidro do carro parecia sussurrar algo, mas nada dizia e já deve ter se apagado. A espera por um telefonema - aquela noite - foi vã. As mensagens? Adereços coloridos. A empolgação era empolgada demais e qualquer redundância anda longe de ser exagero.
O grande prazer dos sentidos é uma volúpia (im)perfeita e (in)completa por (in)compreensão das entrelinhas. Mas quem se detém a ler nestas tais entrelinhas?
Entre tantas intenções, ou nenhuma, fica a vaga sensação de haver vivido algo que não sabe como ser lembrado. E tropeçando por entre textos e melodias, resta mais uma pergunta: quem vai cantar nosso samba?
quarta-feira, 28 de julho de 2010 14 comentários

Apalpar


"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio"

(Metade - Oswaldo Montenegro)






Decidir é complicado. Nunca fui a melhor nem a pior aluna da turma, mas sempre soube que queria ser médica, mesmo tendo feito meu primeiro vestibular para enfermagem. Passei e cursei dois anos, até o dia que me perguntei o que eu tinha feito do meu sonho. Eu estava feliz, porém incompleta. Queria mais, chorei por mais e decidi lutar por muito mais.

Não esperava que fosse fácil, mas não tinha noção das minhas limitações. Poucos acertos e incontáveis erros me levaram a quatro anos de tentativas frustradas. Culpar a ansiedade, o estado emocional ou qualquer adversidade que tenha acontecido durante esse período pode até ser cômodo, um bom argumento, todavia nem de longe justifica minhas falhas. E falhas são erros, defeitos que carecem de correção, não de explicação.

Minha caminhada é repleta de tombos e diante do último quase sucumbi. Estudar tinha perdido a graça, passou a ser obrigação e não um prazer. A alegria de dizer que queria medicina deu lugar ao sorriso amarelo de quem já não sabia mais.

Não foi fácil olhar para as pessoas que me amam e dizer que não consegui. A nostalgia deixada pela sensação de impotência não me permitia respirar e tudo o que consegui foi chover de tristeza. Quis fugir para não ter de encarar o fracasso, mas fiquei e, tentando apalpar o que anseio, recomecei.

Hoje, tenho voltado a sorrir e a me divertir coma pilha de livros e de papéis ao meu redor sem deixar de sorrir para o resto do mundo, pois aprendi que a felicidade não está em um só momento, ela acontece um pouquinho todos os dias.

Onde está a linha tênue entre o sonho e a ilusão? Eu não sei, mas sei que se ainda não deu certo é porque tudo o que fiz não foi tudo o que posso. Cada batalha me fortalece para a próxima e desistir seria aceitar que não sou capaz, e eu sei que posso ir além.

quinta-feira, 22 de julho de 2010 20 comentários

Retrovisor

"Você dizia que me amava e me queria
E que jamais em sua vida
Gostou de alguém assim

Eu era tudo pra você
A flor do bem querer
Que nunca ia poder viver sem mim

Tanto cuidado, tanto mimo, tanto dengo
Cada dia mais crescendo
Dava gosto de se ver

Como se fosse transmissão de pensamento
Você ligava pra mim
Eu tava pensando em você

Diga onde foi que errei
Aonde vacilei
Fiquei de fora

Se foi tudo uma ilusão
Me dá meu coração
Que eu vou embora"

(Me dá meu coração - Santana)

Se todos os dias fossem iguais a vida seria um saco. Se todas as pessoas fossem iguais seriam, apenas, eu. Se todos os sentimentos fossem iguais seriam saudade. E seria eu, no mínimo, teimosa se discordasse de Darwin e da sua teoria evolucionista: só sobrevivemos se evoluímos; só evoluímos se nos adaptamos; só nos adaptamos se mudamos; mas a verdade é que algumas coisas deveriam permanecer exatamente como são.
Não que eu não mude nem que não goste dos efeitos da mudança, não é isso. O que me incomoda é o porquê de tudo. São os motivos ou a falta deles que, quase sempre, não são dignos. E se para crescer é preciso mudar e para mudar é preciso sofrer, talvez eu não queira mudar e muito menos sofrer. É uma lógica bobinha, eu sei, mas necessária para o auto-entendimento.
No fim das contas, é essa metamorfose toda e tudo que a acompanha que nos faz ver - e sentir - diferente . Ela nos retira da comodidade da inércia e de uma suposta segurança que julgávamos ter e nos expõe a novos fatos e a velhas falhas. E qualquer ato falho será um defeito na memória, um desejo inconsciente.
Se, hoje, sou o melhoramento genético do que vivi, sabe Deus o que vivi. O fato é que tem dias que a vida resolve nos dar um caldo só pra nos fazer perceber que ninguém - e eu digo NINGUÉM- é seguro o suficiente que não possa cair e nem tão bom que não possa ser substituído.
A minha carruagem tem retrovisor, pois sei que vão-se as causas, mas ficam as intenções - as mudanças e os textos-. Sobraram explicações e o que faltou ainda deve estar por aí perdido naquela antiga empolgação. "Que o teu afeto me afetou é fato", mas sempre chega a hora de ir - e eu vou embora.

quarta-feira, 14 de julho de 2010 14 comentários

O canto



Daqui vê-se muito:
estrelas que brilham por pessoas
vozes abraçando-se na simplicidade do instante
olhos que se sentem sob-medida, desmedidos
um agradável nada repleto de tudo.

Desafinos afinam os sorrisos
Um momento para a eternidade!
Ou seria a a eternidade por este momento?!
Jarros indispensáveis por toda parte.

Que fazes aí?
Questionam-me as gargalhadas.
E como se soubesse,
sinto que vivo,
apenas observo.

Espero, não alguém que me leve, você
para acompanhar-me
num canto da sala,
num canto da vida.
 
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