quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Terminal de integração

“Diante dos horizontes próximos,
aflige-se o meu coração
Não sei se é o tempo da chegada
Ou sempre o da navegação”.
(Cecília Meireles)

Faz sol. E nada melhor que um dia sorridente para abrir as janelas, fazer uma faxina, colocar as idéias em ordem, os sentidos no lugar e determinar novos rumos, ou erguer-se diante dos antigos.

Imersa nas respostas do que não foi perguntado, ou nas perguntas do que nunca será respondido, deparei-me no terminal de integração e pus-me a observar, a querer entender e a esperar o ônibus que me levaria ao destino certo.

O primeiro que avistei veio repleto de informações novas, letreiros coloridos, pipoca e algodão doce. Me conduzia a escola e me transportava pelos corredores até onde eu pudesse saciar minha cede. Prometia me levar para sempre, mas foi promovido a ambulância e abandonou as velhas rotas da infância para compartilhar das emergências de fisiologias menos complexas.

Circulei, em um destes bem altos, pelos jardins do edifício Antônio Lira, mas sem conseguir apalpar o futuro e enjoada de rodar em círculos pedi para descer antes que vomitasse e estragasse tudo.

Pensei ainda, por estes mesmo jardins, que um outro poderia ter rotas interessantes, apesar do comedimento. Acenei, fiz barulho e acho que (para variar) assustei porque quando eu tentei argumentar junto ao motorista recebi o silêncio como resposta e percebi que eu desejava ir a montanha enquanto ele seguia para a praia.

Peguei muitos ônibus errados, tantos outros lotados e, (des)atenta, permiti que muitos outros partissem sem ao menos saber a que vieram. Evitei caminhar por medo de perder tempo e perdi muito tempo evitando.

O último passou tão por acaso que deve ter se enganado de terminal. Suspicaz de tão quieto, mais parecia ter desligado os motores da emoção, ficou por ali um tempo na dele e só o percebi quando me fiz perceber. Possuía atrativos aos olhos de todos, menos aos meus e, definitivamente, não era o tipo de ônibus que eu me propusesse a pegar. Não prometia destino algum e no letreiro, apenas, um F que julguei de FANTASIA (ou FRENESI, como queira, já que frenesis são fantasias caleidoscópicas). Se chegou pagodeando enquanto eu sorria Bossa Nova, fez meu coração de pandeiro pelas avenidas do aprendizado e me deixou sambando miudinho.

Julgar-me-iam todos uma recalcada se viesse aqui para fazer adjetivações negativas ou atribuir culpas, mas o fato (seja ele verdade ou interpretação) é que estas figuras-estranhas-indispensáveis, os ônibus-homens-amores, estão sucateadas pelo mau uso.

O amor necessita sê-lo e sabê-lo, deseja sentir, ler e ouvir os rumores da alma. Ele não anseia por falatórios elegantes, também não sabe falar bonito, só sabe sentir bonito. Entretanto, no TERMINAL DE INTEGRAÇÃO DOS MEUS AMORES descobri que “nunca soube como se amava, apenas soube como se sonhava amar” (mas isto é só um parêntese sentimentalóide de sensações transeuntes).

Depois de uma hora e meia de espera, ou um quarto de vida sem esperar, fui informada de que é feriado e o ônibus que eu desejo não virá (deve estar guardado na garagem dos sonhos). Então, lembrei-me de uma frase que me foi dita: "para que complicar se o amor é tão simples!" e tentando não cometer os mesmos erros resolvi (re)fazer a estrada e buscar a simplicidade do amor sem simplificar as emoções. Mas antes de passar pela próxima catraca, melhor ir avisando: sou um vulcão de sentimentos e quem tiver medo de fogo que corra, não me venha com extintores.

9 comentários:

Sidney Andrade disse...

"Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação..."

E quando o pneu do onibus estoura no meio do caminho, que a gente tem que ir pra outro, mesmo sem querer?

Ah, o transporte coletivo é lindo!

Unknown disse...

Se até a espera de um ônibus sob um calor inexplicável te faz ter tanta inspiração amiga....como será nos teus melhores momentos!?
Talentosíssima!

Unknown disse...

F de quê mesmo?
hm, ehauheiuhaeoi
bjo!

Rousiane disse...

Meu momento Maria Rita, né Sidney? kkkkkkkkkk

"...Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem [...]

É a vida desse meu lugar"

É a vida!!!!

A-D-O-R-O

Fernanda Raquel disse...

Transporte coletivo é sempre assim amigaa, uma hora ele ta fazendo sua rota normal,outro não e assim vai...
Mais esse tempo todo no terminal acho que te fez bem, te deu até inspiração, hehehe ^^
Como sempre adoro suas construções textuais!

Beijos, GATA :)

Ps. Fernanda Raquel

Anônimo disse...

O medo de pegar o ônibus errado talvez tenha causado em mim o medo de rodar pelas possíveis estradas do amor... talvez eu tenha medo de amar e de sofrer e talvez por isso eu sofra ainda mais por não amar da maneira mais simples.

Liiiiiindo texto!
Tudo (quase tudo) o que tu escreve toca no coração da gente!
Saudades imensas de ti.

Xêro ;*

Carolynne Ferraz disse...

Analogia perfeitaaaaaa!!!
Só não vou te aconselhar a ser somente escritora, porque...você vai ficar LINDA de jaleco Doutora!
=D

Sensibilidade...é isso que falta no mundo,e é isso que você exarceba!
Nossa!Pareceu propaganda da SeDA!Huashuahs...mas não é não...foi,e é sincero!
Você vai longeeeeeee...

Unknown disse...

F de?
F de? [2]
D de?

hum kkkkkkkkkkkk!
amo teus textos vei :~

Anônimo disse...

Eu só fico imaginando você na intregração daqui de JP, mais ou menos 6:30 pm, a hora que todo mundo resolve entrar num busão e ir pra casa.. aquele povo fedorento, que só jesus pra ter piedade de quem fica a cheirar um "suvaco" daquele..
E nesse busão extremamente 'adequado' pra você pensar em seu love (talvez não) você imagine um texto extremante bem elaborado e ao mesmo tempo tocante na vida de quem lê!
Bem já vi alguns textos seus, ja sei da sua parte "poeteira", mas esse, me fez lembrar de tudo isso que eu ja falei, era pra ser diferente não? Mas o que logo me veio na cabeça foi isso!
Espero poder sempre quando eu precisar, vir aqui e poder saciar minha vontade de ler.

 
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