segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Último diário de bordo

Aos melhores companheiros do mundo

Sempre esperamos pelo momento em que algo vai acontecer e, de forma arrebatadora, vai nos projetar para o inesperado e subverter os nossos sentidos. É impossível prever quando vai acontecer. Ninguém sabe do inesperado, mas todo mundo sabe acontecer.

Quem iria imaginar que conheceríamos um exímio executor da dança maori; que galinhas cantam música sertaneja; que o bebê chorão só vai acalmar quando colocar a língua no cotovelo; que era tão importante conseguir falar o quatro na conta do 21 e que se grita desesperadamente quando se está em Marte?

Quando tudo foi uma questão de comprar o risco, nós vimos quem saiu do mundo de princesinha direto para o do lobo mal; quem dançava o mais vibrante possível pentelhando as coitadas das “estátuas”; quem sabia mais nomes que o funcionário do cartório de registro civil e até quem era especialista em xingamentos.

Às vezes atropelamos os jogos, às vezes nem queríamos jogar, mas foi soltando uma carta de cada vez que descobrimos que o street dance é bem mais brasileirinho do que se pensa; que a macaca dá uma coçadinha durante a dança do acasalamento; que tem gente que adorou ter uma bebida como sobrenome e que a volta pra casa sempre pode ser mais divertida.

Era impossível não ver que o único homem no planeta que tem TPM fala pra dentro; que tem gente que acredita que tem muitas caras; que -entre as monitoras- os gritinhos da "lôra" são únicos; a bronca da morena é dura e a pequena faz de tudo pra ver todo mundo bem.

No fim, quem se sentia insensível se desmanchou em lágrimas, quem chorava por tudo engasgou e não conseguiu falar e eu me senti ainda mais singular ao ver a “autista” que não gosta de fotos, nem de aniversários, me entregar seu riso e suas lágrimas.


Como não perceber tanta mudança? Como não mudar junto? Transbordávamos de tanta ansiedade pela intervenção e pelo primeiro contato com o olhar alheio, que nem nos demos conta que a verdadeira intervenção já havia acontecido. Não éramos os mesmos de antes, não depois de cada toque, de cada olhar.

Aos poucos, o nervosismo foi tomando corpo em mim e ninguém pode imaginar como eu quis morrer quando percebi que havia chegado a grande hora e estava sem o meu nariz. Logo o nariz? Voltei à estaca zero, ao antigo pavor do picadeiro. E uma tempestade de insegurança se apossou de mim por alguns instantes até eu encontrar o olhar penetrante do meu gordo preferido bem alí - extremamente disponível - até eu ouvi-lo dizer “eu nunca emprestei a ninguém” enquanto me entregava um pedacinho do seu coração.

Conduzidos pela Gentileza, aprendemos que “máscara não se coloca, se veste” e a vida fez questão de vestir as nossas. Admirando ainda mais a responsabilidade do nariz que usava, lancei meu olhar mais disposto e recebi os melhores sorrisos. Compartilhei de toda palavra e de cada silêncio. E alguém - se quiser- tente descrever o que eu senti naquela manhã porque eu – sinceramente - não consegui.

E o que eu poderia dizer ao meu companheiro da calça "troncha"? Ele que me viu desabar na ladeira e não tentou me levantar, nem me consolar. Não sei como agradecer. Foi indefinível ver ele se atirar ao chão e não me deixar morrer de vergonha sozinha... ele nem sabe, mas - ali ao meu lado - transformou o pior momento no mais peculiar, e eu fui uma perdedora feliz.

Depois que tudo acabou, ainda embebida de tanta energia, de tanto sentimento, foi impossível não lembrar das nossas evoluções e de como foi saboroso caminho. As inúmeras imagens que passavam pela minha cabeça poderiam até ter um tom de nostalgia, mas elas tinham o gosto dos lugares especiais da memória.

No meu corpo escoriado e marcado por todos aqueles pequenos gestos, ficou a imensa felicidade de ter me entregado a liberdade de errar e de ser ridícula, a liberdade de ser eu.

6 comentários:

Rayssa Queiroz disse...

QUE LINDOOOOOOOOOO ROUSI. Mta verdade em tudo.

Renan disse...

São poucos os que conseguem realmente deixar o coração falar. Parabéns!

Fernanda disse...

Que coisa mais linda amiga. Agora dá pra ver ainda mais claro o porquê de você estar tão radiante.
Fiquei tentando imaginar como deve ter sido essa danada de intervenção, e ver pelas fotos o seu olhinho apertado tão arregalado só me faz crer que foi maravilhoso.

Espero que esse encanto se renove pelos hospitais da vida.

Leow disse...

Rouse vei! INCRIVEL PO!

Anônimo disse...

Ficou a palhaça mais linda que eu já vi ;)

Carlinha disse...

Muito bom saber que esse transbordamento dos teus sentimentos, dos teus MELHORES sentimentos, agora chegam a outras pessoas... a outros olhares.

Aproveita! Parabéns!

 
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